11.1.08

Livros, livros, livros!

Todo início de ano faço uma lista imaginária dos livros que quero ler por 12 meses. Sem contar os espaços vazios para aquele livro que você nem imaginava mas que cai na sua mão sem pedir licença e vale, às vezes, mais do que um livro esperado. No ano passado, foi o caso de O que eu amava, de Siri Hustvedt. Comecei a ler mais por curiosidade, já que ela é a mulher do Paul Auster. Acredito que a curiosidade, na maioria das vezes, é recompensadora. Logo esqueci com quem a autora é casada, logo esqueci quem é a autora. Acredito também que esta é uma das melhoras coisas que podem acontecer quando você abre um livro: ficar com os personagens e pronto.
Aconteceu também com As boas Mulheres da China, de Xinram. As histórias são impressionantes, fortes, comoventes e muito bem escritas. E tem uma história dentro da história: A autora estava saindo de uma aula quando alguém se aproximou por trás, bateu em sua cabeça e a derrubou no chão. Era um assalto. Na bolsa, a única cópia do manuscrito que ela tinha acabado de escrever. Isso foi em 1999, vamos imaginar que não se fazia backup com a constância de hoje, ou outro motivo qualquer. O fato é que o ladrão queria levar a bolsa que estava com a única cópia do seu livro. Como qualquer escritor pode imaginar e compreender, ela reagiu ao assalto, chutando o ladrão, que chutou de volta e sairam os dois rolando pela rua. A sorte dela, que rezamos seja de todos os escritores, é que várias pessoas se intrometeram na confusão e deteram o bandido. Quando o homem se levantou, ela percebeu que ele tinha mais de um metro e noventa! E talvez não estivesse realmente armado. Mas... faz diferença?
Ao saber do ocorrido, o policial perguntou por que ela tinha arriscado a vida por uma bolsa. Ao ouvir a resposta, retrucou: um livro é mais importante do que a sua vida?
Não era a questão de ser mais importante. Claro que não era. Mas no segundo em que reagiu, pensava no esforço emocional que teria para escrever tudo de novo. A escrita do livro tinha sido uma experiência profunda e dolorida, e Xinran, simplesmente, não poderia passar por ela de novo. E aquele era um livro que tinha que existir, que ela tinha que fazer. Então, não havia saída. Neste segundo em que reagiu, isso foi, sim, mais importante.
Agora estou lendo Todos os dias, do português Jorge Reis-Sá. Não terminei, mas estou encantada com muitas passagens. Acima de tudo, é uma linguagem tão viva e própria. Um universo tão bem construído, como se não tivesse sido nenhum esforço construir. Simplesmente, está lá. Existe, respira, experiências, personagens, autenticidade. Quando li o José Luiz Peixoto e a Felipa Mello tive a mesma impressão. E certa sensação de que a literatura contemporânea portuguesa, em alguns sentidos, anda bem mais consistente do que a brasileira.
As próximas leituras são Histórias de literatura e cegueira, de Julian Fuks; Toda Terça, de Carola Saavedra; Corpo Estranho, de Adriana Lunardi. Em busca de Klingsor, de Jorge Volpi. Mortes imaginárias, de Michel Schneider, e o que mais aparecer pelo caminho.
E reler alguns livros queridos, que foram importantes para mim: Os dragões não conhecem o paraíso, de Caio Fernando Abreu; Todos os fogos, o fogo, de Cortázar; os contos de Mansfield e de Theckov, as crônicas de Nelson Rodrigues, principalmente, O óbvio ululante e Menina sem estrela.
Ai, será que vai dar para sair de casa, ver o sol, andar de bicicleta, ir à praia, tomar sorvete?

Um comentário:

Marcelo Moutinho disse...

Concordo 100% com vc: a literatura portuguesa contemporânea anda mais consistente do que a nossa. Li o Reis-Sá para uma resenha pro Prosa e Verso e fiquei encantado. Ele tem outros bons livros (ainda não lançados aqui)