20.1.08

Ficção, me dê ficção!

Um amigo querido, Fernando B., me perguntou o que eu queria dizer com o post do dia 8.11.07, em que coloquei a foto de um livro com as páginas abertas, e uma frase assim: "E um dia ela se levantou, exausta de realidade."
Quis dizer isso mesmo, Nando:
a realidade às vezes exaure a gente.
Precisamos de ficção, ficção, ficção.
E um dia nos levantamos, querendo uma janela que não seja a do quarto, a da parede. Queremos uma janela no livro, no filme, no quadro, na foto, no palco.
Em relação à literatura, me parece que, às vezes, os escritores estão mais preocupados em realizar (no sentido de realizar o real) do que de fabular, no sentido de inventar, fantasiar.
Mais do que "escrever bem" (o que é isso, afinal?), o desafio maior do escritor me parece ser criar um universo próprio. Conhecer e afirmar a sua voz e visão literária. Para isso é preciso mais do que escrever uma frase boa ou outra, não? O mergulho é muito maior. É um mergulho que rompe a fina e bruta película do real, e, de uma forma estranha, tem acesso a ele através do imaginário.
E, também, de forma estranha, o imaginário está inevitavelmente ligado ao que a gente lê, vê, vive, sobrevive, sobrevoa.
É uma transposição do real que, como leitora, sinto falta... Entrar numa janela, sair da realidade para voltar a ela depois diferente...
O Nando também me perguntou o que eu encontro em um livro que me faz gostar dele. Fiquei pensando nisso... É o tema? Não. São os personagens? Não. É o enredo? Não. É... um jeito de dizer e ver isso tudo: tema, personagens, enredo. Sim, é o estilo. Sim, é a linguagem. Mas, principalmente, é uma fagulha de vitalidade que está por trás do texto. É uma faísca que deixa a leitura sempre viva, não importa os olhos cansados ou viciados em ler. É o que podemos chamar de originalidade, na forma de outra palavra melhor, ou de autenticidade.
Talvez seja quando o autor absorve o real como mais um elemento para a sua criação, não como o elemento.
Quando ele/ela, na escrita, mergulha na realidade, vive, sobrevive e a sobrevoa.
Então, imagina.

Um comentário:

Manoela Sawitzki disse...

E agora, José?!
Que te dizer, Claudinha?

Lembrei de uma das cartas do Sabino pra Clarice. Ele escreveu: “vc diz coisas que a gostaríamos de dizer, mas de um jeito melhor. (não é exatamente essa a frase, mas a mensagem é)
Sim, vc foi precisa!
Janelas pra esses “lugares” que, de outro modo, não veríamos. Sensações que, possivelmente, não provaríamos, inibidos pela “realidade” que nos cobra tanto, e nos rouba tanto.
E então já não é uma questão de saber ordenar palavras e pintar um enredo com “eficiência” , mas abrir um livro e sentir a pulsação, sentir que se tem nas mãos algo realmente único. Algo que nos tira de onde estamos e nos devolve pra vida sacudidos...