14.2.08

Mortes Imaginárias - II

É um livro não só para quem gosta de ler e escrever, é, principalmente, um livro para quem gosta de escritores. E, especialmente, escritores imortalizados no espaço-tempo, que já se tornaram, de certa forma, personagens.


E os escritores que passam por este livro, Montaigne, Goethe, Puchkin, Balzac, Heine, Dumas pai, Flaubert, Maupassant, Tchecov, Rilke, Doroty Parker, Nabokov, Capote, entre tantos outros, são personagens na mão de Michel Schneider, em seus últimos momentos de vida. O cerne do livro é a última palavra dita pelo escritor em seu leito de morte. Nem todas têm relação direta com o momento da morte, outras são totalmente expressivas do último instante e da última voz. O trabalho deve ter sido duro. Schneider pesquisou a biografia de cada escritor e criou depois uma espécie de conto-ensaio de cada um em seus últimos momentos, tratando de forma ficcional as circunstâncias da morte.
Para quem gosta do genêro ficção-ensaio, é maravilhoso. O livro está quase andando sozinho pela casa, de tanto que já o levei para lá e para cá. Todos os contos são muito bons, mas o sobre Tchecov é de uma riqueza impressionante. Doente, foi com a esposa para a Alemanha para um tratamento. Pouco antes de morrer, estavam no quarto o médico e sua esposa. Após a refeição, Tchecov se vira para a parede e diz, Icc sterbe. Morro, em alemão. E, em seguida, morre.
Tchecov mal sabia alemão. Mas era um homem conhecido por sua educação. Por isso, anunciava a sua partida para que não houvesse sustos nem alvoroços. E a anunciava em alemão por causa do médico alemão ao seu lado. Preferiu não falar em russo, a sua língua natal, "porque não se fala uma língua na frente de alguém que não a compreende." Assim, o escritor morreu como viveu, educadamente e sem espantos.

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