15.6.08

Tecido Penumbroso

Como posso sofrer porque as coisas pararam? Elas andaram tão estouvadas! Por que não deixá-las dormir agora um pouco? Tudo se aquietou, é noite, o mundo vive pra dentro, cegando-se ao sol do sonho. Preciso um pouco desse conteúdo inóspito, ermo como um quase-nada. Não, não é morte, é uma espécie de lacuna essencial, sem a aparência eterna do mármore, ou, por outro lado, sem as inscrições carcomidas. Pode-se respirar também na contra-vida. Depois então a gente volta para o ritmo; aí já não nos reconheceremos ao espelho explícito, tamanha a qualidade desse tecido penumbroso que provamos.


João Gilberto Noll,
inspiradíssimo em Mínimos, múltiplos, comuns.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cláudia,

Quando comecei a ler essa postagem, nem vi que o texto era do Noll. Na primeira linha pensei que era um desabafo sobre o fim do seu romance.

Mas agora não acho não. Esse recorte que se refere à "qualidade do tecido penumbroso" me parece atestar muito mais a persistência do romance em você - e acho que em quem o lerá - como "contra-vida", "sol do sonho", escuro esquecimento, enfim, tão luminoso dessa forma.

Até, então.

Cristiane B.

João Paulo Parisio disse...

Saudações. Estou lançando o primeiro número da revista "Pensamento". Uma amostra de forma e conteúdo e informações sobre como adquiri-la estão à disposição em www.pensas.blogspot.com


Pensamento, tudo que a mente frutifica
Porque cultura é seiva, não verniz