8.3.09

O RETORNO

Devo desculpas aos meus 3 queridos e hipotéticos leitores deste blog, se esses já não desistiram, por este tempo todo sem postagem. As causas foram duas: a primeira, muito trabalho e pouco tempo, apesar da vontade. A segunda, mais cruel: quando enfim ia postar, o blogger simplesmente não me reconhecia. Não consegui entrar no meu próprio blog por alguns meses. Depois de alguns e-mails de socorro, consegui resolver o problema e aqui estou.

Uma das coisas que queria ter escrito aqui, e escrevo agora, é sobre a incrível diferença atmosférica que sinto após ter terminado o romance. Sei que quando estamos envolvidos em um projeto, seja ele qual for, ele se torna na maioria das vezes a referência de nossos dias. Tudo flui e conflui por ele e para ele e assim foi com o romance. Mesmo quando eu não estava escrevendo, eu estava. Quer dizer, a relação com o livro continuava, apesar da distância. Antes, quando escrevia contos, eu entrava e saía das atmosferas de cada um talvez sem perceber intensamente o quanto eu era absorvida por elas. Com o romance sobre a Eufrásia Teixeira Leite, houve um momento crucial na escrita, em que percebi que precisava me aproximar mais dos sentimentos da personagem. O romance não é em primeira pessoa, mas eu precisava de uma voz íntima. Eu ou o livro, não sei, talvez, nós dois. O que sei é que só agora percebo como estava imersa no universo do livro, tantas vezes sombrio e melancólico, tão diferente da minha natureza. Estranho que eu parecia eu, como sempre fui, mas de algum modo a atmosfera de algumas passagens do livro, os sentimentos que essas passagens exigiam, as reflexões que despertavam, as feridas que eram necessárias sentir para escrever sobre elas, a tensão entre as relações dos personagens, as conseqüências de atravessar por essas relações e personalidades para escrever sobre elas, tudo isso e mais, foi me contaminando, me trazendo um sentimento introspectivo e fechado ao resto do mundo. Há claro aqui algum exagero, típico de quem tem júpiter na casa 1 (voltei a estudar astrologia, fazer o quê, conseqüências desses longos seis anos provavelmente). Mas o que posso dizer, além disso, se agora parece que uma cortina se abriu para uma janela ensolarada, se agora enxergo paisagens que antes deslumbravam diariamente diante dos meus olhos - completamente ignoradas? Não sei precisar exatamente o que houve, mas agora parece que há mais luz e leveza em tudo. Uma amiga espírita me disse que, como os personagens do livro existiram, foram pessoas como nós, os seus espíritos me assombraram (inspiraram?) esses anos todos, enquanto eu escrevia o livro. Ui. Incrível como eu, tão chegada a esses assuntos, nunca considerei essa possibilidade. Se foi assim, como diz o querido poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena. E espero que não tenha sido, que tenha sido-seja grande, alta, iluminada. Espero sinceramente que o livro tenha alcançado alguma veracidade e profundeza da existência de Eufrásia e dos outros, mas, principalmente ela, a incrível mulher que ela foi.


Mas queria dizer que, neste livro, o movimento da criação foi oposto ao do livro anterior, A pequena morte e outras naturezas, de contos. Com os contos, o mundo exterior me inspirava, eu observava as pessoas, as ouvia, tirava delas material para as histórias. Imagens, situações, música, paisagens, gente, aulas, textos, poesia, prosa, tudo, tudo me despertava, me inspirava, me imbuía. Havia um fluxo de troca muito interessante e bom, eu absorvia o exterior, tornava-o meu, e o devolvia através da escrita, de volta ao mundo. Neste romance, não. Foi tudo diferente. O movimento foi muito mais de dentro para fora, de dentro para dentro. O mundo não me inspirava. Não como antes. Houve, sim, músicas, filmes, livros, muitos livros, imagens da época, mas sempre de um modo muito introspectivo, dentro de um universo muito próprio. Eu também falava sobre o livro e trocava idéias com as pessoas, mas ainda assim todo o ato criativo era obscuro, moído (Não estou achando a palavra certa. Não quero dizer que eu me fechava de propósito. Na verdade, fazia grande esforço para me abrir). Talvez isso tenha acontecido porque a história se passava no século XIX, e eu precisei me transportar, o que acarretou em certo fechamento para este nosso mundo. O que me inspirava era apenas o que trazia o século XIX para mim. Não sei se isso é bom ou ruim, certo ou errado, mas acho curioso como a atmosfera e o universo da história determinaram o processo criativo, e não eu.



2 comentários:

Aline Miranda disse...

Olá Claudia,
Fiquei muito curiosa em ler seu romance, pela hist´ria e pelo processo de criação.
Sou estudante d eletras e inclusive enviei-lhe um convite via email para um encontro aqui na UFF.
Boas escritas!
Abçs,
Aline

Mari disse...

Oi Claudia!! A Flavia me enviou o convite, quero muito estar lá pra te dar um abraço e um beijo pessoalmente!!!

Adorei este blog, vou virar leitora assídua!

Muitas saudades!
Beijocas mil!