12.12.05

Uma Menina


Uma menina abria o livro - coração aos pulos - ávida para ver nas páginas vidas, situações, sentimentos que ela não conhecia. Ou conhecia, conhecia muito bem, a ponto de doer de alegria ou de dor mesmo se encontrava no papel o que tinha no peito.
Ler não era nada intelectual para essa menina. Aliás, ela nem conhecia essa palavra. Ler era muito mais uma... aventura... uma brincadeira... um susto?
Ler era uma delícia.
Tanto que essa menina quis logo aprender a escrever. Não porque a escola mandava, mas porque escrevendo ela ia poder fazer suas histórias também.
E fez.
E cresceu.
E crescendo não se sabe porquê a moça foi achando que escrever as histórias era uma coisa muito mais da cabeça do que do... do que mesmo?
Não, não era do coração, isso seria muito sentimental para essa moça tão estudada.
Da imaginação, talvez.
Isso, imaginação pode, porque também se localiza na cabeça, que nem o pensamento, a razão.
Mas a diferença é que a imaginação se faz de muito sonsa, sabe. Finge que vai ficar só por ali mesmo na cabeça, mas de repente dá um pulo e voa.
A moça fica assustada. Esse vôo tem forma? Esse vôo tem estilo? Esse vôo tem ritmo? Esse vôo se basta como vôo? Esse vôo tem influência de outro vôo? Esse vôo já foi feito? Esse vôo voa sozinho? Esse vôo precisa ser refeito? Esse vôo vai ficar voando assim? Esse vôo não pára? Esse vôo não aterriza?
Aterriza, moça.
Aterrizou.
E pode voar de novo?
Pode, moça.
Mas, como?
Ué, a moça não estudou tanto?
Estudei, mas nos estudos não tem essa parte, de alçar vôo. Nos estudos a gente só pensa do vôo quando já é vôo, não antes de ser. Antes de ser, eu não sei.
Ninguém sabe, minha menina.
Então?
Não era melhor ter deixado voar?

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma boa história. Cláudia e concordo que muita experimentação atrapalha.

bjs
Flávio