21.4.06

Vozes de Virgínia Woolf

Escrever este romance tem me exigido um tempo imenso, dilatado no próprio tempo, impossível para os compromissos diários, incompatível com a realidade. Um tempo implacável, que pede silêncio e solidão. Pensamentos obscuros, sentimentos intensos. O olhar parado sobre as coisas, esperando, esperando, esperando... o quê? De repente, sei. São as palavras e as imagens que chegam, precisas, como se estivessem se organizando no escuro antes de aparecer. Me arrepia tudo isso. Nunca senti esse deserto ao escrever. Um deserto povoado pelos personagens. Diariamente, eles vão se tornando cada vez mais vivos, mais fortes do que as pessoas. São quase quatro anos, afinal. É um tempo que nao reconheço nas páginas escritas. É como se existissem tempos diferentes entre a criação e a criatura.

Tudo que faz parte do imaginário - do processo criativo - se torna real.
O mais real. Dá para ver, tocar, cheirar, falar, responder, escutar.

Virgina Woolf ouvia vozes, agora entendo o porquê.

São fantasmas sem espíritos. Fantasmas da própria imaginação. A louca da casa, como diz Rosa Monteiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cláudia, querida ... Poucas vezes vi o processo da escrita descrito com tanta fidelidade e honestidade. Beleza de texto! Muitos beijos.