Quando eu vinha aqui neste blog desabafar as angústias e também as delícias de escrever Mundos de Eufrásia, mergulhava tanto no processo criativo, que era como se o romance fosse ficar para sempre nesse estágio de latência: um livro por vir. Acho que seis anos pode ser tempo suficiente para causar essa impressão em um escritor, de uma quase eternidade. E agora é tão curioso para mim perceber que me afasto do livro, enquanto outras pessoas se aproximam dele. E são essas pessoas, que lêem o livro agora, que o trazem de volta para mim. Então é como se nos reencontrassemos. Sou grata a quem tem me dado esse presente. É como se fosse uma visita de uma pessoa muita querida, com quem convivi intensamente nos últimos anos, e de repente, não nos vemos mais como antes, apenas casualmente.
Agradeço a querida escritora Adriana Lisboa (Autora dos belos livros Rakushisha, O Beijo da Colombina, Sinfonia em branco, entre muitos outros, leituras fundamentaispara quem quer conhecer o que tem de bom e do melhor da nossa literatura contemporânea ) a quem admiro até não poder mais, e continuo depois mesmo não podendo, que escreveu um lindo e generoso post em seu blog Caquis Caídos sobre a sua leitura do meu romance. Deixo o link para quem quiser dar uma olhada. http://caquiscaidos.blogspot.com/2009/08/mundos-de-eufrasia.htm Não só neste post, vale a pena navegar pelo blog inteiro da Adriana, que é ótimo.
E às vezes me surpreendo com o e-mail, a mensagem, como há aqui em alguns comentários, com o retorno de pessoas que leram o livro, pessoas que não conheço, e não me conhecem, que o livro e a literatura nos uniu. Retorno de leituras que me trazem alento e força para continuar nessa rotina equilibrista e inconstante, onde não há muito descanso, nem a sensação de um ponto de chegada, mas de movimento incessante e renovado, onde o horizonte é sempre outro ponto de partida.
É incomparável saber, por esses retornos, que a história de Eufrásia está tocando algumas pessoas que lêem o livro. Mais incomparável ainda é ver que algumas pessoas acham que o livro não é apenas um romance histórico, que não se trata apenas de uma história de amor passada no século XIX, que a vida da Eufrásia é também a vida de prisões familiares, sufocamentos, decisões e escolhas fundamentais, abertura de caminhos, busca de liberdade. A minha maior alegria foi receber esse retorno, porque esse sempre foi o sentimento principal que pairava sobre a escrita. A fricção e o embate entre a vida pública e a privada, as demandas externas sufocando as internas, a necessidade de escapar das prisões sociais e familiares que enredam. A intimidade dentro da experiência maior e menor de nossas vidas. Isso tudo é mais vital, foi ao menos para mim, do que retratar uma época, personalidades históricas, uma história de amor. É maravilhoso, para o autor, quando o leitor toca nessa mesma tecla, que é a essência do livro.
Quando essa nota essencial é ressoada pela leitura, é o escritor que vibra, podem acreditar. Não há nada mais belo do que uma música plenamente ouvida e absorvida em seu sentido mais íntimo.