29.9.07

meus escritores

Clarice, Cortazar, Calvino, Nelson, Becket, Kafka, Guimarães, Hilda, Mansfield, Caio, Faulkner, Dostoiéski, Tchekov, Ionesco, Artaud, Saroyan, Pessoa, Barros, Marques...

... Seguindo os passos de Cortazar: o que há em determinado texto que o torna especial para você?


Por quê Clarice, Cortazar, Calvino, Nelson, Becket, Kafka, Guimarães, Hilda, Mansfield, Caio, Faulkner, Dostoiévski, Tchekov, Ionesco, Artaud, Saroyan, Pessoa, Barros, Marques...?

13.9.07

A marquesa

Uma brincadeirinha sobre a célebre frase de Paul Valéry, dizendo que nunca escreveria um romance que tivesse a seguinte frase: "A marquesa saiu às cinco horas". Para ele, a frase era o exemplo perfeito de uma literatura de superfície, de pequenas observações, de interesse mediano, burguês. A brincadeira é uma junção com outra observação do surrealista André Breton sobre a descrição na narrativa. Ele cita ninguém mais ninguém menos do que
Dostoievski, em Crime e Castigo. "Os móveis, de madeira amarela, eram todos muito velhos. Um sofá com um grande espaldar virado, uma mesa de formato oval em frente ao sofá, um toucador e um espelho encostados num vão de parede entre duas janelas". Para Breton, a descrição é um recurso inútil e vazio, que nada expressa ou revela. Serve apenas para retratar um ambiente, como um quadro realista. Não constrói nenhuma relação do personagem com o espaço, nem com a trama desenvolvida.

E a brincadeira:

A marquesa saiu às cinco horas. Os móveis, de madeira amarela, eram muito velhos. A janela está fechada desde ontem. Havia um toucador e um espelho encostados, num vão de parede.

A marquesa saiu? Às cinco horas? Os móveis, de madeira amarela? Eram muito velhos. A janela está fechada? Desde ontem. Havia um toucador? E um espelho. Estão encostados num vão? Na parede.

A marquesa? Saiu?
Às cinco horas.
E os móveis?
Desde ontem.
A janela?
Fechada.
E um toucador e um espelho?
Encostados em vão na parede.

Marquesaaaaaaa !!
Saiu!
Ontem?
Pela janela.
Os móveis encostados em madeira amarela.
Às cinco horas fechadas, velhos em vão no espelho.
Desde muito.